segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

MORRER DE CONSUMISMO!


Olá!

Dia 02/02 (Quarta Feira), como já sabem, vai rolar a 1ª Tour de Zines (a partir das 17hs na casa de Dinho Batera) e haverá uma mostra de vídeo: A História das coisas.
Nesse vídeo mostra o ser humano consumista e o que o consumismo pode causar.
Vou postar um texto (Morrer de consumismo!) que achei no site GRITOPUNK, espero que gostem.

Morrer de consumismo

Morrer de consumismo - Quanto mais gastamos, mais felizes somos. Provavelmente. Para reflexão. Para os que de vós estiverem eventualmente interessados.

A actual economia industrial funciona assim: os recursos sao escavados de um buraco no chão num dos lados do planeta, usados por algumas semanas e depois despejados num buraco no outro lado do planeta. A isto chamam Criaçao de Valor. A Criaçao de Valor melhora a nossa qualidade de vida. Melhoramentos na nossa qualidade de vida fazem-nos mais felizes. Quanto mais transferimos de buraco para buraco, mais felizes somos. Infelizmente, ainda nao estamos a transferir o suficiente.

De acordo com o Worldwatch Institute, jà usàmos mais bens e serviços desde 1950 do que no resto da història humana até essa data. Mas ainda nao parece que sejamos felizes. De facto, durante o mesmo perìodo, os jovens Britanicos de 25 anos tornaram-se 10 vezes mais susceptìveis a depressoes. Um em cada quatro adultos Britanicos sofre de insònias crònicas e um quinto da populaçao estudantil sofre de problemas de foro psicològico. Nos ùltimos 13 anos, o accionamento de seguros de saùde mental subiu 36%. Estudos Americanos sugerem que entre 40 a 60 por cento da populaçao do paìs padece, directa ou indirectamente, devido a doenças mentais todos os anos. A Organizaçao Mundial de Saùde preve que em 2010 as depressoes serao a segunda doença mais comum do mundo desenvolvido. A menos que comecemos a consumir de forma mais simples e calma, nunca sentiremos uma felicidade real.

Na época de Natal o consumo aumenta drasticamente. Para sermos mais felizes, movemos os recursos de um buraco para outro tao ràpido quanto possìvel. As autoridades da minha localidade relatam que a quantidade de lixo despejado aumenta 12 por cento em Dezembro e Janeiro. E' curioso, contudo, que as depressoes também parecem aumentar: as chamadas telefònicas aos samaritanos aumentam oito por cento entre o Natal e o Ano Novo.

Mas os nùmeros, por outro lado, sao enganosos. Quanto mais deprimidos estamos, mais gastamos em àlcool e anti-depressivos. Quanto mais gastamos, como qualquer economista vos dirà, maior utilidade temos, ou seja, mais felizes nos tornamos. Alguns Natais atràs, ofereceram-me uma chaleira que
agora pinga. Eu podia reparà-la, se pudésse apertar a base. Mas um dos parafusos tem uma forma de estrela, com um pico no meio, de forma a que nao possa ser reparada, pois nao existem ferramentas com essa forma. A minha chaleira era apenas Natalìcia, não para a vida inteira. Por isso, vou
deità-la fora e ajudar a construir um paraìso terreno comprando uma nova.

Das lixeiras e incineradoras em que os nossos presentes partidos, àrvores de Natal decompostas e embalagens nao-reciclàveis sao depositados, a boa-vontade emanarà inexoravelmente. Entre outros benifìcios, o despejo de lixo suporta a profissao médica. De acordo com investigaçoes publicadas na revista The Lancet (revista médico-cientifìca), os bebés nascidos dentro de um raio de até 3 quilòmetros de aterros tòxicos teem uma maior probabilidade de sofrer de anormalidades do que os bebés nascidos noutras partes. As incineradoras libertam dioxinas e metais pesados, os quais provocam cancro, defeitos de nascença e endometrìase. Isto cria empregos e aumenta a circulaçao de dinheiro, acrescentando-se à soma da felicidade humana.

Apesar dos nùmeros das Naçoes Unidas sugerirem o contràrio, os Britanicos sao certamente mais felizes do que outros povos de terras mais pobres, porque um nùmero superior das suas necessidades é preenchido. De facto, os anunciantes ajudam-nos a responder a necessidades que desconhecìamos ter,
revelando-nos que as nossas vidas sao menos satisfatòrias do que pensàvamos.

Quando eu tinha 18 anos, os cremes faciais para homem chegaram ao mercado. Até essa altura, nòs, os rapazes, nem fazìamos ideia de que a nossa pele estava a envelhecer permaturamente. Desde então, os homens foram apresentados a muitos dos melhoramentos de que as mulheres já desfrutavam há tanto tempo. Descobrimos que somos mais feios, manchados, gordos, e mais inadequados do que alguma vez poderíamos imaginar. E, através da movimentação de mais recursos entre buracos no chão, podemos fazer algo contra isso.

A sociedade consumista serve os pobres melhor do que ninguém, pois tanto expõe a fealdade das suas vidas como simpaticamente providencia os meios através dos quais podem escapar-lhe. Em alguns casos, como nos diz o relatório do Citizen's Advice Bureaux, os juros sobre a felicidade deles
aumentam até 1800 por cento ao ano, espalhando boa jovialidade entre as milhares de pessoas empregadas pelas agencias de cobrança. Tal como os bancos e os produtores, também as lojas e os economistas nos relembram que a nossa busca de felicidade nao tem barreiras. E' claro que, como sempre, e particularmente nesta época do ano (na altura, época de Natal), hà alguém a querer fazer de desmancha-prazeres. E, predizivelmente, os ecologistas grunhem que o nosso planeta está a morrer de consumismo. As pessoas, dizem eles, estão a ser empurradas para fora das suas terras pelo abrir de buracos, abate de florestas e aumento das colheitas de dinheiro; os ecossistemas estão a ser envenenados e os recursos exauridos. A Terra está a sobreaquecer porque tanta energia está a ser gasta para mover os seus componentes de um buraco para outro. Mas eu perguntar-lhes-ia o seguinte:
nao serà a morte do planeta um preço aceitável a pagar pela felicidade de que agora gozamos?

George Monbiot, colunista do jornal The Guardian
Traduzido por Jorge Long

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Bosta


A opção de comer é sua.

Matéria de capa / Estados Unidos - América Rebelde - Uma entrevista com Noam Chomsky

As manipulações da mídia e a fabricação do consentimento, o isolamento político do governo norte-americano, o totalitarismo e a essência da democracia: estes e outros temas sob a ótica de um dos mais importantes intelectuais de nossa época.

por Daniel Mermet

Tão respeitado nos pequenos seminários acadêmicos quanto nas grandes reuniões do Fórum Social Mundial, Noam Chomsky é um dos mais importantes intelectuais da atualidade. Com 78 anos, esse professor do renomado MIT (o Instituto de Tecnologia de Massachusetts) tornou-se uma referência mundial, seja no domínio da lingüística, sua área de especialização científica, seja nas fileiras da esquerda, seu campo de atuação política. Como lingüista, Chomsky teve o nome internacionalmente projetado por sua teoria acerca dos princípios estruturais inatos da linguagem. Como político, tem-se destacado na crítica à globalização neoliberal e aos mecanismos de controle dos regimes totalitários e das sociedades ditas democráticas.

De origem judaica (seu pai, professor em escola religiosa, foi um dos grandes eruditos da língua hebraica), não poupa críticas a Israel, pelo tratamento dado aos palestinos e pela prática do que qualifica como “terrorismo de Estado”. Nascido em Filadélfia (o berço da identidade nacional norte-americana), é um dos principais opositores da política imperialista dos Estados Unidos, em geral, e do governo George W. Bush, em particular. Intelectual engajado (que se define como “socialista libertário”), vem sendo tão radical na condenação do stalinismo quanto do nazismo. Sua independência intelectual tem-lhe valido pesados ataques, vindos de várias direções. Mas também lhe tem granjeado amplas simpatias e apoios.

Nesta entrevista exclusiva a Le Monde Diplomatique, ele discorre extensamente sobre alguns dos temas mais relevantes do mundo contemporâneo (nota da edição brasileira).

Diplomatique
Comecemos pela questão da mídia. Na França, em maio de 2005, por ocasião do referendo sobre o Tratado da Constituição Européia, a maioria dos meios de comunicação de massa era partidária do “sim”. No entanto, 55% dos franceses votaram “não”. O poder de manipulação da mídia não parece, portanto, absoluto. Esse voto dos cidadãos representaria um “não” também aos meios de comunicação?

Chomsky O trabalho sobre a manipulação midiática ou a fábrica do consentimento, feito por mim e Edward Herman, não aborda a questão dos efeitos das mídias sobre o público1. É um assunto complicado, mas as poucas pesquisas detalhadas sugerem que a influência das mídias é mais expressiva na parcela da população com maior escolaridade. A massa da opinião pública parece menos dependente do discurso dos meios de comunicação.

Tomemos como exemplo a eventualidade de uma guerra contra o Irã: 75% dos norte-americanos acham que os Estados Unidos deveriam pôr fim às ameaças militares e privilegiar a busca de um acordo pela via diplomática. Pesquisas conduzidas por institutos ocidentais mostram que a opinião pública dos Estados Unidos e a do Irã convergem também sobre certos aspectos da questão nuclear: a esmagadora maioria das populações dos dois países acha que a zona que se estende de Israel ao Irã deveria estar totalmente livre de artefatos nucleares, inclusive os que hoje estão nas mãos das tropas norte-americanas na região. Ora, para se encontrar esse tipo de opinião na mídia, é preciso procurar muito.

Quanto aos principais partidos políticos norte-americanos, nenhum defende este ponto-de-vista. Se o Irã e os Estados Unidos fossem autênticas democracias, no seio das quais a maioria realmente determinasse as políticas públicas, o impasse atual sobre a questão nuclear estaria sem dúvida resolvido.

Há outros casos parecidos. No que se refere, por exemplo, ao orçamento federal dos Estados Unidos, a maioria dos norte-americanos deseja uma redução das despesas militares e um aumento correspondente das despesas sociais, dos créditos depositados para as Nações Unidas, da ajuda humanitária e econômica internacional. Deseja também a anulação da redução de impostos que beneficia os mais ricos, decidida por Bush.

Em todos esses aspectos, a política da Casa Branca é contrária aos anseios da opinião pública. Mas as pesquisas de opinião que revelam essa persistente oposição pública raramente são publicadas pelas mídias. Resulta que não somente os cidadãos são descartados dos centros de decisão política, como também são mantidos na ignorância sobre o real estado da opinião pública.

Existe uma preocupação internacional com o abissal déficit duplo dos Estados Unidos: o déficit comercial e o déficit orçamentário. Estes somente existem em estreita relação com um terceiro: o déficit democrático, que aumentar sem cessar, não somente nos Estados Unidos, mas em todo o mundo ocidental.

Diplomatique Toda vez que perguntamos a uma estrela do jornalismo ou a um apresentador de grande jornal da televisão se ele sofre pressões ou censura, a resposta é invariavelmente “não”. O jornalista diz que é totalmente livre, que somente expressa suas próprias convicções. Conhecemos bem os mecanismos de dominação ideológica das ditaduras. Mas como funciona o controle do pensamento em uma sociedade democrática?

Chomsky Quando os jornalistas são questionados, eles respondem de fato: “nenhuma pressão é feita sobre mim, escrevo o que quero”. E isso é verdade. Apenas deveríamos acrescentar que, se eles assumissem posições contrárias à norma dominante, não escreveriam mais seus editoriais. Não se trata de uma regra absoluta, é claro. Eu mesmo sou publicado pela mídia norte-americana. Os Estados Unidos não são um país totalitário. Mas ninguém que não satisfaça exigências mínimas terá chance de chegar à posição de comentarista respeitável. Esta é, aliás, uma das grandes diferenças entre o sistema de propaganda de um Estado totalitário e a maneira de agir das sociedades democráticas. Com certo exagero, nos países totalitários, o Estado decide a linha a ser seguida e todos devem se conformar. As sociedades democráticas funcionam de outra forma: a linha jamais é anunciada como tal; ela é subliminar. Realizamos, de certa forma, uma “lavagem cerebral em liberdade”. Na grande mídia, mesmo os debates apaixonados se situam na esfera dos parâmetros implicitamente consentidos – o que mantém na marginalidade muitos pontos de vista contrários.

O sistema de controle das sociedades democráticas é mais eficaz; ele insinua a linha dirigente como o ar que respiramos. Não percebemos, e, por vezes, nos imaginamos no centro de um debate particularmente vigoroso. No fundo, é infinitamente mais teatral do que nos sistemas totalitários.

Tomemos, por exemplo, o caso da Alemanha dos anos 1930. Temos a tendência a esquecer, mas era então o país mais avançado da Europa, na vanguarda em matéria de ciência, técnica, arte, literatura e filosofia. Depois, em pouquíssimo tempo, houve uma grande reviravolta, e a Alemanha tornou-se o mais letal, o mais bárbaro Estado da história humana.

Tudo isso foi feito espalhando-se o medo. Medo dos bolcheviques, dos judeus, dos ciganos, dos norte-americanos – em suma, de todos aqueles que, segundo os nazistas, ameaçavam o coração da civilização européia, herdeira direta da civilização grega. Era o que escrevia o filósofo Martin Heidegger em 1935. Ora, a maior parte da mídia alemã, que bombardeou a população com esse tipo de mensagem, usou as mesmas técnicas de marketing utilizadas por publicitários americanos.

Não esqueçamos de como uma ideologia se afirma. Para dominar, a violência não basta. É preciso uma justificativa de outra natureza. Assim, quando uma pessoa exerce poder sobre outra, seja um ditador, um colonizador, um burocrata, um patrão ou um marido, ele precisa de uma ideologia justificadora, que sempre redunda na mesma coisa: a dominação é exercida para “o bem” do dominado. Em outras palavras, o poder se apresenta sempre como altruísta, desinteressado, generoso.

Nos anos 1930, as regras da propaganda nazista consistiam, por exemplo, em escolher palavras simples e repeti-las sem parar, associando-lhes emoções, como o medo. Quando Hitler invadiu os Sudetos, em 1938, ele o fez invocando os objetivos mais nobres e caritativos: a necessidade de uma “intervenção humanitária” para impedir a “limpeza étnica” da população de língua alemã e garantir que todos pudessem viver sob a “asa protetora” da Alemanha, com o apoio da mais avançada potência do mundo no domínio da cultura.

Em propaganda, se de alguma maneira nada mudou depois de Atenas, houve certamente aperfeiçoamentos. Os instrumentos sofisticaram-se muito, em particular e paradoxalmente nos países mais livres do mundo: o Reino Unido e os Estados Unidos. Foi lá, não em outra parte, que a moderna indústria das relações públicas, isto é, a fábrica da opinião ou a propaganda, nasceu nos anos 1920.

Estes dois países haviam de fato progredido em matéria de direitos democráticos, com o voto feminino, a liberdade de expressão etc. A tal ponto que o desejo de liberdade não podia mais ser contido somente pela violência estatal. Convertemo-nos, assim, às tecnologias da “fábrica do consentimento”2. A indústria das relações públicas produz, no sentido próprio dos termos, consentimento, aceitação, submissão. Ela controla as idéias, os pensamentos, os espíritos. Em relação ao totalitarismo, foi um grande progresso: é muito mais agradável sofrer o efeito de uma publicidade que se ver em uma sala de tortura.

Nos Estados Unidos, a liberdade de expressão é protegida em um grau sem paralelo em qualquer outro país do mundo. Isso é muito recente. Desde os anos 60, a Suprema Corte deu grande proteção e garantia à liberdade de expressão, o que traduz, na minha opinião, um princípio fundamental estabelecido desde o século XVIII pelo Iluminismo. A Suprema Corte afirma que a palavra é livre com a única ressalva de não participar de ato criminoso. Se, por exemplo, entro em uma loja para roubar, um de meus cúmplices tem uma arma, e eu digo “atire!”, isso não será protegido pela Constituição. Quanto ao resto, o motivo deve ser particularmente grave para que a liberdade de expressão seja posta em xeque. A Suprema Corte já reafirmou este princípio até mesmo em favor dos membros do Ku Klux Klan. Na França, no Reino Unido e, me parece, no resto da Europa, a liberdade de expressão é definida de maneira muito mais restritiva.

A meu ver, a questão essencial é: o Estado tem o direito de definir qual é a verdade histórica e punir quem dela se afasta? O pensamento tende a se acomodar a uma prática stalinista. Os intelectuais franceses têm dificuldades em admitir que é bem esta a sua inclinação. No entanto, a recusa de tal abordagem não deveria comportar exceção. O Estado não deveria possuir nenhum meio de punir quem quer que pretenda que o Sol gire em torno da Terra. O princípio da liberdade de expressão tem algo de muito elementar: ou o defendemos no caso de opiniões que detestamos, ou renunciamos por completo à sua defesa. Mesmo Hitler e Stalin admitiam a liberdade de expressão daqueles que defendiam seus pontos de vista3.

Acrescento que há algo de muito perturbador e mesmo de escandaloso em debater essas questões dois séculos após Voltaire, que, como sabemos, declarava: “Odeio as suas opiniões, mas daria a minha vida para que você pudesse expressá-las”. Seria prestar um triste desserviço às vítimas do holocausto adotar uma das políticas fundamentais de seus carrascos.

Diplomatique Em um de seu livros, você comenta a frase de Milton Friedman “ter lucro é a própria essência da democracia”...

Chomsky A bem dizer, as duas coisas são de tal forma contrárias que não há sequer comentário possível. A finalidade da democracia é que as pessoas possam decidir suas próprias vidas e fazer as escolhas políticas que lhes concernem. A realização de lucros é uma patologia de nossas sociedades, associada a estruturas particulares. Em uma sociedade decente, ética, a preocupação com o lucro seria marginal. Tome como exemplo meu departamento universitário, no Massachusetts Institute of Technology (MIT). Lá, alguns cientistas trabalham duro para ganhar muito dinheiro. Mas são considerados um pouco marginais, um pouco perturbados, quase casos patológicos. O espírito que anima a comunidade acadêmica é, antes, o da descoberta, a um só tempo por inteesse pessoal e para o bem de todos.

Diplomatique Em texto que lhe é dedicado, Jean Ziegler escreve: “Existem três totalitarismos: o totalitarismo stalinista, o totalitarismo nazista, e, agora, o ‘tina’3.” Você compararia esses três totalitarismos?

Chomsky Eu não os colocaria no mesmo plano. Combater o “tina” é afrontar uma construção intelectual que não pode ser comparada aos campos de concentração ou ao gulag. Além disso, a política norte-americana suscita oposição em escala planetária. Na América Latina, a Argentina e a Venezuela expulsaram o FMI. E os Estados Unidos não puderam recorrer ao que seria a norma há vinte ou trinta anos: o golpe militar. O programa econômico neoliberal que foi imposto à América Latina durante os anos 80 e 90 é hoje rejeitado no continente. Vemos esta mesma oposição à globalização econômica por toda parte.

O movimento global pela justiça, sempre sob o foco da mídia na época de cada reunião do Fórum Social Mundial, trabalha na realidade durante todo o ano. É um fenômeno muito recente na história, que marca talvez o início de uma verdadeira Internacional. Seu principal cavalo de batalha é a existência de uma alternativa. Aliás, que melhor exemplo de uma globalização diferente do que o próprio Fórum Social Mundial? As mídias hostis chamam aqueles que se opõem à globalização neoliberal de “os antiglobalização”, quando, na verdade, eles lutam por uma outra globalização, a globalização dos povos.

Podemos observar o contraste entre uns e outros, porque, no mesmo momento, ocorre o Fórum Econômico Mundial, que trabalha para a integração econômica planetária, mas somente em prol dos interesses das altas financeiras, dos bancos e dos fundos de pensão – potências que controlam também as mídias. É a concepção deles de integração global: uma integração a serviço dos investidores. As mídias dominantes entendem que somente essa integração global merece o título oficial de globalização. Eis um belo exemplo de funcionamento da propaganda ideológica nas sociedades democráticas. A tal ponto essa propaganda é eficaz que mesmo os participantes do Fórum Social aceitam às vezes a qualificação pejorativa de “antimundialistas”. Em Porto Alegre, compareci ao Fórum e participei da conferência mundial dos camponeses. Eles representam, sozinhos, a maior parte da população do planeta...

Diplomatique Você é classificado na categoria dos anarquistas ou dos socialistas libertários. Na democracia, tal como você a concebe, qual seria o lugar do Estado?

Chomsky Vivemos neste mundo, não em um universo imaginário. Então, neste mundo, existem instituições tirânicas, que são as grandes empresas. É o que há de mais próximo das instituições totalitárias. Elas não têm, por assim dizer, que prestar qualquer esclarecimento ao público ou à sociedade. Agem como predadoras, tendo como presas as outras empresas. Para se defender, as populações dispõem apenas de um instrumento: o Estado. Mas ele não é um escudo muito eficaz, pois, em geral, está estreitamente ligado aos predadores. Há, no entanto, uma diferença que não se pode negligenciar: enquanto, por exemplo, a General Electric não deve satisfações a ninguém, o Estado deve regularmente se explicar à população.

Quando a democracia se tiver alargado ao ponto em que os cidadãos controlem os meios de produção e de troca e participem no funcionamento e na direção do conjunto em que vivem, então o Estado poderá, pouco a pouco, desaparecer. Ele será substituído por associações voluntárias sediadas nos locais de trabalho e de moradia.

Diplomatique Seria uma nova forma de soviets? Qual a diferença em relação aos soviets da Rússia revolucionária?

Chomsky Seriam soviets, sim. Mas lembremos que, na Rússia, a primeira coisa que Lênin e Trotsky destruíram, logo após a Revolução de Outubro, foram os soviets: os conselhos de operários e todas as instituições democráticas. Lênin e Trotsky foram, neste sentido, os piores inimigos do socialismo no século XX. Porque, marxistas ortodoxos como eram, eles consideravam que uma sociedade atrasada como a da Rússia de sua época não poderia passar diretamente ao socialismo sem ser precipitada à força na industrialização.

Em 1989, no momento do desmoronamento do regime comunista, eu pensei que este desmoronamento, paradoxalmente, representava uma vitória para o socialismo. Pois o socialismo, tal como o concebo, implica, no mínimo, eu repito, o controle democrático da produção, das trocas e de outras dimensões da existência humana.

No entanto, os dois principais sistemas de propaganda conspiraram para afirmar que o sistema tirânico implantado por Lênin e Trotsky e depois transformado em monstruosidade por Stálin era o “socialismo”. Os dirigentes ocidentais não fizeram mais do que se deleitar com esse uso absurdo e escandaloso do termo, que lhes permitiu difamar o socialismo autêntico durante décadas.

Com igual entusiasmo, mas em sentido contrário, o sistema de propaganda soviético tentou explorar a seu proveito a simpatia que os ideais socialistas autênticos inspiravam nas massas de trabalhadores.

DiplomatiqueNão é verdade que, segundo os princípios anarquistas, todas as formas de auto-organização acabaram por desmoronar?

Chomsky Não há “princípios anarquistas” fixos, uma espécie de catecismo libertário ao qual se deva prestar juramento. O anarquismo, ao menos como o vejo, é um movimento do pensamento e da ação que busca identificar as estruturas de autoridade e dominação, exigindo que elas se justifiquem, e, se elas se mostram incapazes, como acontece freqüentemente, tenta superá-las.

Longe de ter “desmoronado”, o anarquismo, o pensamento libertário, vai muito bem. Ele é a fonte de muitos progressos reais. Formas de opressão e injustiça que mal eram reconhecidas, e muito menos combatidas, não são hoje mais admitidas. É uma conquista, um avanço para o conjunto dos seres humanos, não uma derrota.



1 Herman, Edward e Chomsky, Noam: Manufacturing Nova York, Pantheon, 2002.
2 Expressão do ensaísta norte-americano Walter Lippman, que, a partir dos anos 1920, pondo em dúvida a capacidade do homem comum se determinar com sabedoria, propôs que as elites cultas “lapidassem” a informação antes que ela atingisse a massa.
3 Tina: palavra formada com as iniciais da expressão inglesa “there is no alternative” (não há alternativa), utilizada por Margaret Thatcher para proclamar o caráter inelutável do capitalismo neoliberal.



Entrevista enviado por e-mail por Caleb e D.ebie.
Obrigado!

PARE O ESTRUPO CORRETIVO!!!

Caros amigos,

"O estupro corretivo”, a prática cruel de estuprar lésbicas para “curar” sua homossexualidade, está se tornando uma crise na África do Sul. Porém, ativistas corajosas estão apelando ao mundo para pôr fim a estes crimes monstruosos. O governo sul africando finalmente está respondendo -- vamos apoiá-las. Assine a petição e divulgue para os seus amigos!


Millicent Gaika foi atada, estrangulada, torturada e estuprada durante 5 horas por um homem que dizia estar “curando-a” do lesbianismo. Por pouco não sobrevive

Infelizmente Millicent não é a únca, este crime horrendo é recorrente na África do Sul, onde lésbicas vivem aterrorizadas com ameaças de ataques. O mais triste é que jamais alguém foi condenado por “estupro corretivo”.

De forma surpreendente, desde um abrigo secreto na Cidade do Cabo, algumas ativistas corajosas estão arriscando as suas vidas para garantir que o caso da Millicent sirva para suscitar mudanças. O apelo lançado ao Ministério da Justiça teve forte repercussão, ultrapassando 140.000 assinaturas e forçando-o a responder ao caso em televisão nacional. Porém, o Ministro ainda não respondeu às demandas por ações concretas.

Vamos expor este horror em todos os cantos do mundo -- se um grande número de pessoas aderirem, conseguiremos amplificar e escalar esta campanha, levando-a diretamente ao Presidente Zuma, autoridade máxima na garantia dos direitos constitucionais. Vamos exigir de Zuma e do Ministro da Justiça que condenem publicamente o “estupro corretivo”, criminalizando crimes de homofobia e garantindo a implementação imediata de educação pública e proteção para os sobreviventes. Assine a petição agora e compartilhe -- nós a entregaremos ao governo da África do Sul com os nossos parceiros na Cidade do Cabo:

https://secure.avaaz.org/po/stop_corrective_rape/?vl

A África do Sul, chamada de Nação Arco-Íris, é reverenciada globalmente pelos seus esforços pós-apartheid contra a discriminação. Ela foi o primeiro país a proteger constitucionalmente cidadãos da discriminação baseada na sexualidade. Porém, a Cidade do Cabo não é a única, a ONG local Luleki Sizwe registrou mais de um “estupro corretivo” por dia e o predomínio da impunidade.

O “estupro corretivo” é baseado na noção absurda e falsa de que lésbicas podem ser estupradas para “se tornarem heterossexuais”, mas este ato horrendo não é classificado como crime de discriminação na África do Sul. As vítimas geralmente são mulheres homossexuais, negras, pobres e profundamente marginalizadas. Até mesmo o estupro grupal e o assassinato da Eudy Simelane, heroína nacional e estrela da seleção feminina de futebol da África do Sul em 2008, não mudou a situação. Na semana passada, o Ministro Radebe insistiu que o motivo de crime é irrelevante em casos de “estupro corretivo”.

A África do Sul é a capital do estupro do mundo. Uma menina nascida na África do Sul tem mais chances de ser estuprada do que de aprender a ler. Surpreendentemente, um quarto das meninas sul-africanas são estupradas antes de completarem 16 anos. Este problema tem muitas raízes: machismo (62% dos meninos com mais de 11 anos acreditam que forçar alguém a fazer sexo não é um ato de violência), pobreza, ocupações massificadas, desemprego, homens marginalizados, indiferença da comunidade -- e mais do que tudo -- os poucos casos que são corajosamente denunciados às autoridades, acabam no descaso da polícia e a impunidade.

Isto é uma catástrofe humana. Mas a Luleki Sizwe e parceiros do Change.org abriram uma fresta na janela da esperança para reagir. Se o mundo todo aderir agora, nós conseguiremos justiça para a Millicent e um compromisso nacional para combater o “estupro corretivo”:

https://secure.avaaz.org/po/stop_corrective_rape/?vl

Está é uma batalha da pobreza, do machismo e da homofobia. Acabar com a cultura do estupro requere uma liderança ousada e ações direcionadas, para assim trazer mudanças para a África do Sul e todo o continente. O Presidente Zuma é um Zulu tradicional, ele mesmo foi ao tribunal acusado de estupro. Porém, ele também criticou a prisão de um casal gay no Malawi no ano passado, e após forte pressão nacional e internacional, a África do Sul finalmente aprovou uma resolução da ONU que se opõe a assassinatos extrajudiciais relacionados a orientação sexual.

Se um grande número de nós participarmos neste chamado por justiça, nós poderemos convencer Zuma a se engajar, levando adiante ações governamentais cruciais e iniciando um debate nacional que poderá influenciar a atitude pública em relação ao estupro e homofobia na África do Sul. Assine agora e depois divulgue:

https://secure.avaaz.org/po/stop_corrective_rape/?vl

Em casos como o da Millicent, é fácil perder a esperança. Mas quando cidadãos se unem em uma única voz, nós podemos ter sucesso em mudar práticas e normas injustas, porém aceitas pela sociedade. No ano passado, na Uganda, nós tivemos sucesso em conseguir uma onda massiva de pressão popular sobre o governo, obrigando-o a engavetar uma proposta de lei que iria condenar à morte gays da Uganda. Foi a pressão global em solidariedade a ativistas nacionais corajosos que pressionaram os líderes da África do Sul a lidarem com a crise da AIDS que estava tomando o país. Vamos nos unir agora e defender um mundo onde cada ser humano poderá viver livre do medo do abuso e violência.

Com esperança e determinação,

Alice, Ricken, Maria Paz, David e toda a equipe da Avaaz

Leia mais:

Mulheres homossexuais sofrem 'estupro corretivo' na África do Sul:
http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2009/12/09/mulheres-homossexuais-sofrem-estupro-corretivo-na-africa-do-sul-915119997.asp

ONG ActionAid afirma que "estupros corretivos" de lésbicas na África do Sul estão aumentando:
http://virgula.uol.com.br/ver/noticia/lifestyle/2010/03/22/243215-ong-actionaid-afirma-que-estupros-corretivos-de-lesbicas-na-africa-do-sul-estao-aumentando

Acusados de matar atleta lésbica são julgados na África do Sul:
http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,acusados-de-matar-atleta-lesbica-sao-julgados-na-africa-do-sul,410234,0.htm


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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Família Alcança a Incrível Marca de Apenas uma Sacola de Lixo no Ano


Tem ideia de quanto lixo você e sua família produzem em um ano? A família Strauss tem e no fim de 2009 resolveram passar o ano seguinte inteiro sem produzir nenhum lixo.

Eles não conseguiram, mas estão longe de terem falhado. A família, que vive na Inglaterra, produziu praticamente tudo o que consumiu e quando iam ao mercado só compravam produtos recicláveis. Com a prática do “banheiro ecológico”, a família usou os restos de alimentos pra fazer adubo. Assim, em um ano eles produziram uma só sacola de lixo contendo lâminas de barbear, canetas e coisas do tipo.

Pai, mãe e filha comemoram o feito por saberem que seria impossível não produzir nada de lixo, mas uma só sacola é realmente bastante perto da meta que eles se impuseram só para estimular a produzir a menor quantidade que conseguissem.

O resultado dos Strauss virou exemplo de desperdício zero e no site criado pela família, My Zero Waste, dão dicas de reciclagem e contam o que passaram nesse ano (quase) sem lixo.

Fonte: Planeta Sustentável

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

1ª TOUR DE ZINES [BAHIA]

SIMÕES FILHO [28.01.2011]


lançamento dos zines:
selvaje 1 - da anarquia à selvageria;
cultive resistência;
em defesa do anarquismo anti-civilização.

oficinas:
espiral de ervas;
horta em pequenos espaços;
compostagem.

bate-papo:
introdução à permacultura;
permacultura & anticivilização;
anarquia, ecologismo & veganismo.

videos:
recicle // história das coisas

bandas:
mácula;
egrégora.

+ venda de rango vegan // material libertário // etc...


28.01.2011 às 14h00, no sítio do pica pau amarelo [kkkkk], na casa do roqueiro, filho da professora, estrada cova da gia - Simões Filho - Bahia - Brasil.



CRUZ DAS ALMAS [02.02.2011]


Apresentação de Zines

Oficina de Criação de Zines


Mostra de Vídeo:

A história das coisas

Bate Papo:
Carona

Show com: ⒺXISTA//RESISTⒶ e convidados!

Dia 2 de fevereiro (quarta feira), a partir das 17hs, na Casa de Dinho Batera.
Compareçam e ajude, como puder!

DESCULPAS!!!

Olá!!!

Queria pedir desculpa a todxs por não atualizar o blog há um tempo... e também desejar um feliz 2011, cheio de realizações e que o sonho de liberdade não seja esquecid, e que as nossas vozes sejam ativas e amendrontem eles!!!

2011 começou, e início do ano é a mesma coisa, sempre. O salário mínimo continua mínimo, enquanto o salário dos governantes coneguem ser mais do que o máximo, esse ano tivemos reajuste de 62%. As capitais mais uma vez aumentam as taxas de buzão, queria manifestar minha alegria ao ver várias capitais lutando contra esse aumento. E é isso... resistência sempre!!!

Continuemos na luta e não desistiremos de nossa liberdade, NUNCA!!!