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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

CARTA CONTRA A VIOLÊNCIA POLICIAL EM CACHOEIRA-BA


Sábado, 13 de agosto, noite de início da Festa da Boa Morte, festividade que atrai muitos visitantes à cidade, a comunidade se reuniu em torno de um movimento cultural. A Praça 25 de junho agrupava na mais recente edição do Reggae na Escadaria – no centro de Cachoeira/BA – um grande número de pessoas (Famílias, crianças, estudantes, idosos), onde por diversas vezes a viatura da polícia de número 9 2702 placa NTD 8384 passou vagarosamente observando de forma ameaçadora alguns espectadores, dando um prazo limite para que o som fosse desligado.
Por volta das 2 horas da manhã, quando o trânsito foi parado por uma colisão de carros, a viatura que passava no momento parou e os policias desceram, solicitando que o som fosse interrompido. Alegaram que muitas pessoas se reuniam no local atrapalhando o trânsito na via e também alegaram que os organizadores do evento não tinham autorização para realizar aquela atividade.
Os presentes sentiram-se indignados, manifestando-se através de vaias e frases de protesto, pois ao mesmo tempo inúmeros carros tocavam outros tipos de som em volume altíssimo.
Os policias reagiram de forma agressiva e opressora. A PM Ednice iniciou a agressão contra um espectador que estava acompanhado por sua esposa e filho, o que causou ainda mais revolta entre os cidadãos. Os policias pararam a viatura ao lado da praça e permaneceram em formação fora do veículo. Uma parte dos policiais estava sem identificação. A residente Flávia Pedroso Silva se aproximou dos soldados e perguntou os nomes dos agentes que participavam da atuação. O que é direito de todo cidadão resultou numa ação ainda mais agressiva. Dois policiais homens a seguraram pelo braço dando voz de prisão por “desacato à autoridade”. A vítima alegou irregularidade na atuação, pois sabido é que um policial homem não pode autuar mulheres. Os presentes reagiram e tiraram a menina da mão dos policias, que agrediram muitos dos presentes com empurrões quando o PM Elias atirou para cima ameaçando as pessoas que estavam próximas.
Pouco tempo depois chegaram mais duas viaturas e vários soldados que partiram para cima da estudante agredindo a ela e Glauber Elias, também negro e estudante da UFRB.
No caso da estudante Flávia, o mais grave em nosso entendimento, os agressores usaram de violência física e psicológica, utilizando palavras de baixo calão, como vadia, puta e vaca. Mostraram também todo o preconceito em relação às tatuagens no corpo da estudante, usando disso para fazerem mais ameaças tais como “você que gosta de marcas vamos deixar mais marcas em seu corpo”.
A garota foi colocada dentro do camburão, juntamente outro estudante presente, Luis Gabriel, que também questionou a ação dos policiais. Os mesmos soldados continuaram ameaçando outras pessoas, perguntando de forma sarcástica quem mais queria ser detido.
Ambos foram levados para o Posto Policial Militar do 2º Pelotão da 27ª CIPM - CPR LESTE, localizado na Rua Direta do Capoeiruçu/ Cachoeira. No local a garota foi agredida com tapas no rosto e agressões verbais em frente ao funcionário que registrava a ocorrência, e que ao ser solicitado o registro de tal agressão o mesmo declarou que não havia visto nada. Enquanto isso, do lado de fora da delegacia, testemunhas que estavam no momento da agressão permaneceram sob tensão com os policiais. A advogada que acompanhou todo o caso permaneceu pelo menos 30 minutos em frente a delegacia sendo impedida de entrar.
A vítima, ao expressar sua vontade de abrir ocorrência contra a violência e o abuso de autoridade, foi informada que não poderia fazê-lo pois, no local, não havia delegado e nem escrivão. Assim sendo, os envolvidos foram encaminhados para a DEPIN – 3ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior – Delegacia Circunscricional de Policia de Santo Amaro – BA. Mesmo com a alegação da advogada de que seus clientes não poderiam ser transportados na parte traseira da viatura e que ela deveria acompanhá-los, os policias os colocaram no camburão e seguiram dizendo que não esperariam ninguém. Ao chegar em Santo Amaro, as vítimas nada puderam fazer, pois os policiais que receberam o caso disseram que não havia tinta na impressora para registrar a ocorrência da mesma e que esta voltasse num outro momento, atrasando desta forma todo o processo e a possibilidade de se fazer um exame de corpo de delito. Após uma espera ambos foram liberados e convocados para depoimento no dia 15 de agosto, às 10 horas. Vale ressaltar que mesmo com a alegação de não haver tinta na impressora, os policiais agressores registraram a ocorrência de desacato à autoridade.
Como podemos perceber, inúmeras irregularidades ocorreram no procedimento da abordagem policial. Desde o aparente desrespeito por parte destes policiais ao estilo musical Reggae, às reações de extrema violência da polícia para com a população, até os atos de violência ao longo do processo.
Enfatizamos a repressão ao reggae como demonstração de racismo da polícia cachoeirana, lembrando que a maior parte das pessoas que compunham o grupo local eram homens e mulheres negras. Também o tratamento contra a Flávia, desde as agressões físicas cometidas por policias do sexo masculino até os obstáculos postos diante da tentativa de prosseguir com a denúncia contra as ações destes policiais, tanto que até o presente momento ainda não foi possível o registro legal do caso, sendo que há apenas o processo da polícia contra os envolvidos.
Denunciamos assim a opressão explícita, ao saber que este não é o único e nem o primeiro caso de abuso e violência gratuita da polícia militar contra os cidadãos cachoeiranos, e exigimos desta forma providências do Estado contra os crimes praticados de violência policial, abuso de poder e violência do estado contra a população negra, a qual resultou na prisão irregular dos estudantes negros Flávia e Gabriel, configurando crime de racismo institucional.

Núcleo de Negras e Negros Estudantes da UFRB (NNNE)

sexta-feira, 15 de julho de 2011

NOTA DE REPÚDIO A AÇÃO DA POLÍCIA NO ARRAIA DO SÃO JOÃO DE CRUZ DAS ALMAS


Venho, através desta, relatar a todos sobre o acontecido no arraiá do São João de Cruz das Almas.
O São João é a principal festa da cidade de Cruz das Almas. Nesta data comemorativa, milhares de turistas visitam a cidade, sendo uma das cidades mais procuradas da Bahia nesta época do ano. Como há um grande tráfego de pessoas nesse período a demanda por segurança é maior, fazendo com que aumente a frota de policiais (PMs, civil, caatinga e choque).
São 5 dias de festas, e no primeiro dia (22/06), me deparo com o despreparo e a brutalidade dos policiais, violência estampada numa festa tão bonita. O que vejo? Policiais adestrados pra bater, sem respeito por nada e nem ninguém. Pessoas inocentes apanhando, pra não dizer sendo espancadas, sem fazer nada e sem direito a se defender. Abuso de poder, truculência. Meninos, meninas, homens e mulheres apanhando só por estarem se divertindo, curtindo a festa, dançando ou, até mesmo, na frente deles.
Diante de tal perversidade, abuso de poder, Bhell e Luh foram perguntar o porquê de tal violência, de tal barbaridade. A única resposta que elas tiveram foi a repressão, empurrões, choques, gritos e mais gritos. Policiais despreparados que não tem argumentos nem pra se defender quando é questionado. Por que batem?
Parafraseando Titãs: “Dizem que ela existe pra ajudar! Dizem que ela existe pra proteger! Eu sei que ela pode te parar! Eu sei que ela pode te prender!.... Polícia! Para quem precisa. Polícia! Para quem precisa de polícia... (2x) Dizem pra você obedecer! Dizem pra você responder! Dizem pra você cooperar! Dizem pra você respeitar!... Polícia! Para quem precisa. Polícia! Para quem precisa de polícia... (2x).
Mas não termina aí. Dias depois, no sábado (25/06), eu, Bhell e Luh fomos ver o show e nos deparamos de novo com a mesma cena (a cena se repete, jovens inocentes apanhando). Uma abordagem atrás da gente e vemos meninos, de menor, sendo espancados por policiais, tentando se defender e não podendo, pois quando tentavam abrir a boca eram calados com ‘tapões’ ao pé-do-ouvido, murros na cintura.
Indignados procuramos não olhar pra aquela barbaridade, tentando prestar atenção no show quando, de repente, um grupo de 6 policiais (choque) vem de frente a gente e empurra Bhell e pelo simples fato dela perguntar se eles não podem pedir licença é novamente empurrada, desta vez com mais força fazendo com que seu corpo dê dois passos para trás. Eu interferi puxando-a para trás de mim e perguntando: “vocês não vão bater nela, né!?”
Diante desta pergunta eles, com todo o abuso de poder que podiam usar, me puxaram e perguntaram: “QUEM VOCÊ PENSA QUE É?” (essas palavras não vão sair da minha cabeça). Fizeram uma abordagem da forma como sempre fazem, violentamente, embora não achando nada. Porém, Luh, ao tentar pegar os meus óculos pensando que eles poderiam bater em mim e quebrar, tomou um empurrão e Bhell ao ver aquilo com sua irmã não aguentou e foi defendê-la, quando eles a puxaram pelo cabelo e disseram: “Mulher também apanha!” Jogando-a no chão, puxando-a pelo cabelo (no chão) e chutando a sua cabeça.
Não havia o que fazer a não ser tentar tirá-la daquele estado, e quando tentei tirá-la daquele estado fui imobilizado por eles. Eu, Bhell e Luh imobilizados fomos levados ao Posto Policial (Colégio Acadêmico), chegando lá fomos interrogados e mais uma vez abordados, de forma mais violenta. Eu fui abordado na parte de fora da sala e as meninas no banheiro, por uma policial que recebeu ordens dos outros para que batessem nelas. Não achando nada e depois de ser tachados como ‘comunistas’, ‘pseudo-revolucionários’, eles nos colocaram sentados de frente a uma parede e sempre que passavam ouvíamos: “revolucionários de merda, comunistas...”, acompanhados de chutes e empurrões na cabeça.
Depois que a choque saiu, recebemos desculpas dos policiais que lá se encontravam e chegavam, muitos destes moradores de Cruz das Almas. Pediam desculpas pela ação dos policiais da choque dizendo que estes, quando vem pro interior, vem pra bater e provocar o ‘terror’. Porém, desculpas não vão apagar aquelas cenas que vivemos... Desculpas não vão apagar nossa dor. Desculpas não vão acabar com o nosso ódio.
Muitos que seguem este blog sabem a minha repulsa/aversão/ódio a esta classe que tanto reprime, oprime, espanca e mata. E mais uma vez citando partes de músicas, fica aqui o meu repúdio a esta classe que eu preferia que não existisse.
“Eles podem meus documentos tirar, eles podem até me prender, eles podem me torturar, eles podem meu cadáver ter, mas minha obediência eles nunca terão!” (Rancor – Discurso de Gandhi)
“Homens fardados, atiram em você, não sabe quem tu és, nem o que vai fazer. Homens sem caráter, de farda, coturno, revolver na mão, acabam teu futuro” (Exclusos – Homens Fardados)
“Olha o PM, PM idiota, com suas idéias, nazi-patriotas, com seu regime, nazi-fascista e suas odeias militarista. Lá vem o PM, pela Avenita Sete, espancado, guris e pivetes! Olha o PM, PM safado, olha o PM, boneco do Estado. Policial, vá se fuder! Policial, vá se fuder! Não gostamos de vocês” (Bosta Rala – Idiota)
PS.: Bhell ficou com ‘galos’ na cabeça, dores nos braços e pernas; Luh ficou com dores nos braços. No mais, estamos bem, mas nosso ódio só aumenta.