sexta-feira, 26 de novembro de 2010

MARGINALIZAÇÃO DO NEGRO E A RESISTÊNCIA ESCRAVA NO BRASIL


Vivendo atualmente sob as injustiças de uma cultura racial discriminatória, que tende a jogar o negro às margens de uma sociedade tão desigual, os descendentes dos africanos aqui trazidos como escravos contam uma longa história de opressão, exploração, sofrimento e também de resistência. Durante um período de nossa história, toda a sociedade brasileira atribuía ao negro as características de um povo e de uma raça submissa, inferiorizada e infantil. Se falava de um escravocrata, atribuía-se a ele como “qualidade” um sentimento de afetividade e compaixão que envolveria as relações entre senhores e escravos. Refiro-me àquela idéia da amenidade (entenda-se humanidade) da escravidão brasileira. Essa visão enganosa e ridícula, construída pela classe dos senhores no intuito de mascarar a condição do negro explorado pela afirmação do senhor como um pai de uma grande família, constitui as bases daquele pensamento que vê hoje no negro o vagabundo, o incapaz, o bandido.
Entretanto as últimas décadas tem descoberto um Brasil bem diferente, bem menos florido. Impulsionado pelas recentes lutas dos negros contra a discriminação racial, novos estudos vieram mostrar uma sociedade escravocrata brutal e cruel para com os negros escravos. Essa situação de humilhação e violência sofrida na pele pelos escravos não se fez contudo sem resistência e lutas.
As atitudes de insubmissão escrava, que têm suas origens no impulso humano em reagir a uma realidade opressora, diferenciaram-se entre dois tipos fundamentais. De um lado estão as revoltas que brotavam do desejo de fuga. Fuga de um meio hostil escravista tendo como fim a reconstrução de uma “sociedade negra”, paralela à “sociedade branca”. O outro tipo essencial de revolta escrava se caracterizava, por sua vez, pelas suas ações que objetivavam a destruição direta e transformação da sociedade que o escravizava. Refiro-me às revoltas que buscavam realizar uma revolução social, buscando na construção de uma nova sociedade mais igualitária, composta pelas diferentes raças, a destruição daquela sociedade escravista.
Assim, de uma forma ora mais ou ora menos direta, a insubmissão escrava, concretizada nas fugas individuais, na formação de quilombos, na participação de movimentos revolucionários, nas guerrilhas rurais, nos levantes armados urbanos ou mesmo nas exigências e negociações do dia-a-dia, constituíram como fator ativo na destruição da ordem escravocrata brasileira.
Como podemos perceber hoje, essa emancipação do escravo não se constituiu ainda como uma completa libertação do negro no sentido em que este se vê oprimido por um imaginário cultural preconceituoso, herdado desse passado escravista. Aliás, o mito nacional de uma princesa bondosa libertando seus “filhinhos” escravos nada mais é do que um sintoma de que a própria classe dominante havia se apropriado do produto de séculos de lutas escravas, e realizado a abolição conforme o que lhe conviesse. Abafada por uma simples canetada, a possibilidade da classe dos escravos realizar sua revolução e dessa forma imprimir à sociedade futura seus desejos de uma maior igualdade e liberdade, os negros se viram jogados na posição de marginalizados. Sem nenhuma propriedade, sem acesso aos bens materiais, educação, hospitais, os negros se encontravam largados numa sociedade de competição, na qual tiveram que começar do zero. Onde estaria toda aquela riqueza produzida em mais de três séculos de trabalho forçado? Nas mãos dos negros só restavam calos... no futuro a possibilidade de uma completa libertação, conquistada a custo de mais sangue, suor e lutas.


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